Muitos termos técnicos começam a fazer parte de nosso dia-a-dia a partir do momento que decidimos mergulhar de cabeça no mundo dos investimentos. Conhecer de perto o que representam esses termos e siglas pode facilitar a avaliação de algumas empresas na difícil tarefa de encontrar bons fundamentos e negócios.
Um indicador financeiro bastante utilizado pelas empresas de capital aberto e pelos analistas de mercado é o chamado EBITDA, também conhecido como Lajida, cujo conceito ainda não é claro para muitas pessoas. A sigla corresponde a Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization, ou seja, Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização.
O EBITDA representa a geração operacional de caixa da companhia, ou seja, o quanto a empresa gera de recursos apenas através de suas atividades operacionais, sem levar em consideração os efeitos financeiros e de impostos. Por isso, alguns profissionais chamam o EBITDA de fluxo de caixa operacional. Difere do EBIT, conhecido como o lucro na atividade, no que se refere à depreciação e amortização.
A importância do EBITDA
A utilização do EBITDA ganhou importância porque analisar apenas o resultado final da empresa (lucro ou prejuízo) muitas vezes não ilustra bem o potencial de desempenho em um dado período, já que muitas vezes os dados finais são influenciados por fatores difíceis de serem mensurados. Popularizada nos EUA dos anos 70, a análise através do EBITDA é muito comum também por analistas brasileiros, especialmente aqueles voltados para o mercado de ações.
Como calcular o EBITDA?
Um primeiro passo é calcular o lucro operacional, que, de acordo com o critério utilizado no Brasil, é obtido com a subtração, a partir da receita líquida, do custo dos produtos vendidos (CPV), das despesas operacionais e das despesas financeiras líquidas (despesas menos receitas com juros e outros itens financeiros).
Depois, basta somar ao lucro operacional os juros, a depreciação e amortização inclusas no CPV e nas despesas operacionais. Note que estas contas não representam saída de caixa. Por exemplo, a depreciação de um equipamento quantifica a perda de sua capacidade produtiva graças ao uso ou tempo, e, portanto, a perda de seu valor para a empresa. Essa perda não é financeira, já que não há desembolso efetivo de recursos no período.
Por que é interessante usar o EBITDA?
Segundo especialistas, o indicador pode ser utilizado na análise da origem dos resultados das empresas e, por eliminar os efeitos dos financiamentos e decisões contábeis, é capaz de medir com mais precisão a produtividade e a eficiência do negócio. E isso é essencial na hora de investir, especialmente se levado em conta o longo prazo.
É muito comum notar o termo margem EBITDA sendo usado no mercado. Desta forma, o percentual pode ser usado para comparar as empresas quanto à eficiência dentro de um segmento. Mais interessante, a variação do indicador de um ano em relação a outro mostra aos investidores se uma empresa conseguiu ser mais eficiente ou aumentar sua produtividade.
Por outro lado, como ressalva, vale lembrar que o EBITDA pode dar uma falsa idéia sobre a efetiva liquidez da empresa, segundo comentários do consultor Carlos Alberto Zaffani. Além disso, ele ressalta que:
- O indicador não considera o montante de reinvestimento requerido (pela depreciação), fator especialmente crítico nas empresas que apresentam ativos operacionais de vida curta;
- O EBITDA não considera as mudanças no capital de giro e, portanto, sobrevaloriza o fluxo de caixa em períodos de crescimento do capital de giro;
- O EBITDA nada apresenta sobre a qualidade dos lucros;
Para ver um exemplo de cálculo de EBITDA e como ele influencia os resultados das empresas, leia o artigo “EBITDA - Virtudes e Defeitos”, do consultor Carlos Alberto.
Por retratar o “operacional da empresa”, o EBITDA é utilizado como aferidor de desempenho na geração de recursos próprios decorrentes da atividade fim do negócio. Por isso desconsidera em seus cálculos toda e qualquer receita ou despesa não decorrente da operação principal da empresa.
Igualmente importante, ao desconsiderar os resultados financeiros, o EBITDA elimina, por exemplo, toda e qualquer dificuldade gerada em função de uma eventual desvalorização de moeda. As receitas oriundas de aplicações financeiras, assim como as despesas provenientes do aporte de recursos junto a terceiros não se vinculam ao objetivo principal do negócio, justificando, desta forma, a sua não inclusão no cálculo.
EBITDA como instrumento de análise
Segundo estudo realizado pela Prof. Yumara Lúcia Vasconcelos, publicado em um artigo muito interessante chamado “EBITDA – REDESCOBERTA DO POTENCIAL INFORMATIVO DOS INDICADORES ABSOLUTOS”, a leitura proporcionada pela análise do EBITDA apóia decisões diversas, a saber:
Mudanças na política financeira da empresa. Ora, se o ingresso efetivo de recursos, no período considerado para análise, encontra-se em nível insatisfatório comparativamente à capacidade operacional de geração de caixa da empresa, a política financeira, por certo, precisará ser reformulada caso a liquidez efetiva da empresa esteja baixa.
Visualização do grau de cobertura das despesas financeiras. Os resultados operacionais cobrem as despesas financeiras? Qual o percentual de segurança, ou seja, qual a parcela mínima de receitas a vista para cobertura destas despesas?
Monitoramento de estratégias financeiras empreendidas. De que forma repercutiu a estratégia financeira adotada? Quanto maior o volume de recursos gerados na atividade da empresa, melhor a flexibilidade dos gestores para tomada de decisões pertinentes à aquisição e alocação de ativos, assim como melhor será sua liquidez, se em adequada sintonia de prazos.
Pode ser utilizado como benchmark financeiro. O analista não deve privar-se de analisar a empresa de forma dinâmica comparando seus indicadores, estáticos ou absolutos, com medidas de empresas congêneres.
Serve de base para avaliação de empresas, uma vez que evidencia a viabilidade dos negócios (termômetro de eficiência e produtividade). O EBITDA é a variável mestra em avaliações de empresa uma vez que reflete o puro desempenho do empreendimento no segmento econômico. Existe uma tendência por parte dos analistas em recomendar negócios com empresas que apresentam EBITDA positivo, afinal quanto maior a geração de recursos via operações da empresa, mais atrativo é o negócio, especialmente quando comparamos o indicador absoluto com o volume de investimentos operacionais. É forçoso lembrar ainda que o valor de empresa tem variado na razão direta de seu EBITDA.
O assunto é extenso e muito interessante. Com o passar do tempo - e seguindo sugestões de muitos de nossos leitores - nossos artigos começarão a abranger termos mais complexos. Não que a essência de abordar os assuntos de maneira didática vá desaparecer, longe disso, mas é fundamental irmos aumentando o grau de complexidade dos temas a fim de abrirmos os leques de possibilidades.